A águia americana é o animal nacional e símbolo dos Estados
Unidos da América. Uma águia também já tinha sido símbolo de Roma,
especialmente das legiões romanas. Ela é uma enorme ave de rapina, no topo da
cadeia alimentar. A poderosa ave jamais emitiria um som parecido com o piu de
um pintinho. A ave de fato não. Mas o poderoso país que ela é símbolo piou
ontem, 06/01/2020. Essa data ficará marcada na história por mostrar que toda
águia tem seu dia de pintinho.
O poderoso “irmão do norte” teve seu dia de república de
bananas, como declararam vários de seus proeminentes políticos. Um dos maiores,
senão o maior, símbolo da democracia deles foi invadido por uma turba raivosa.
Além de várias bandeiras e faixas com frases e símbolos caros a direita, havia
também gente fantasiada de viking e de outras coisas igualmente engraçadas. Mas
para mostrar que tipo de turba era essa havia também gente com camisas pretas
com Campo de Auschwitz escrito e outras falando que matar seis milhões, de
judeus, pelo que se entende, foi pouco.
As cenas transmitidas pelas TVs e outros meios da invasão do
templo da democracia são patéticas. Parlamentares correndo de um lado para o
outro. Policiais apatetados, aparentemente sem saber o que fazer. Nada que
lembrasse um país em que a segurança nacional é uma atividade tão importante
que muitas vezes atropela o próprio governo. Aparentava ser ou uma completa
falta de organização, digna mesmo de uma republiqueta de bananas ou algo
tolerado. No dia da manifestação do Black Lives Matter, por exemplo, tropas de
choque cercaram o prédio para que ninguém entrasse. E a turba de ontem entrou
como se estivesse em uma visita guiada. Somente depois do quebra-quebra e da
invasão dos plenários se viu que a coisa era séria. Mas aí já tinha um “cidadão
de bem”, com chapéu de pele com enormes chifres e sem camisa, lembrando o
cantor Jamiroquai, sentado na cadeira do presidente do senado. Parece piada,
mas não é.
Essas cenas, no que possam proporcionar memes e cards
engraçados, têm um alcance e um significado que não são nada cômicos. Podem estar
representando um ponto de inflexão em todo um sistema de representação e de
gestão da democracia em todo mundo. Trump e seus seguidores mostraram que as
instituições, mesmo as “sólidas” instituições dos EUA, são incapazes de conter ações
de uma nova forma da direita se expressar no cenário político em qualquer país.
Trump e seu discípulo Bozo são exemplos disso. São lideranças que surgem por
fora do perímetro da direita tradicional, com um enorme apelo populista e antissistema,
sem nenhum respeito pelas instituições, que usaram essas instituições para
chegar ao poder formal e que passam o tempo a golpeá-las usando suas turbas
inflamadas. A democracia estadunidense tremeu quando viu na prática os
acontecimentos no Capitólio. Não há mais ponto de retorno. A democracia
burguesa, um conceito e uma prática sempre associados à dominação burguesa da
sociedade, não consegue mais acomodar sem sobressaltos novas forma de atuação
de frações dessa mesma burguesia. As sagradas instituições da burguesia estão
sendo atacadas com violência não pelos revolucionários de esquerda, mas sim pela
turba da extrema-direita.
Trump irá para por aí? Provavelmente não. Em virtude da má
repercussão, e certamente porque a turba não atingiu a dimensão necessária, ele
foi forçado a recuar. O establishment também não se moveu a seu favor. Mas não
abandonou o discurso da fraude e que na realidade ele é o vencedor das
eleições. Ele vai martelar esse mantra até o fim da sua vida. E que consequências
isso terá ainda não se pode prever. Qual o tamanho real de Trump nos EUA? O
quanto ele conseguirá se manter vivo no cenário não só de lá, mas do mundo?
Seguidores cegos dele, como Bozo, estão espalhados pelo mundo.
Entre nós Bozo já deu a senha: em 2022 se não tiver voto
impresso as coisas serão mais graves. Voltou a falar que a eleição de 2018 foi
certamente fraudada pois ele ganhou no primeiro turno. Tal qual uma crônica de
uma morte anunciada, ele já anunciou o que nos espera em 2022. Se não for pela
falta do voto impresso será por qualquer outra razão: ele vai tentar melar as
eleições para se manter no poder. Não precisa ser um grande analista da
GloboNews para prever isso! O que acontecerá se ele tentar isso? Imprevisível.
Se for favorecer os interesses de setores importantes da classe dominante ele
faz. Se não for vai tentar, mas tem grandes chances de não conseguir. Isso
mantidas as condições atuais em que o PT se junta ao que de pior temos na
política na formação da mesa da Câmara dos Deputados e em tantos outros
parlamentos Brasil a fora.
Não podemos ser joguete nas mãos das disputas entre a classe
dominante. Nessa briga não temos lado. Temos que nos preparar e fortalecer
nossos laços com a classe trabalhadora e com o povo. Se quisermos barrar as tentativas
de Bozo, e de quem mais estiver associado a ele, precisamos mobilizar o povo.
Essa será a única contenção para ele e para qualquer outra aventura tentada. A
mobilização popular nos levará a ter força eleitoral para vencer as eleições em
2022 e garantir a posse e o governo a seguir. Sem isso corremos o risco de até
ganhar as eleições, mas sucumbir a alguma forma de golpe dado por Bozo ou pela
direita mais civilizada, como em 2016.
Mas para chegar em 2022 temos que passar por 2021. Um ano
que não tem nenhum sinal que será bom para o povo. Será um ano provavelmente de
aprofundamento da miséria, do desemprego e da destruição do Estado como promotor
do desenvolvimento e gestor dos serviços voltados para a população. Por todas
essas razões o cerco a Bozo deve ser um tema central. Trá-lo da presidência, a
ele e a todos que o representam, é o caminho para que possamos ter um 2021 ao
menos de início de recuperação e um 2022 sem tantas sombras no horizonte. E
também de lutar pela recuperação dos direitos políticos de Lula, para que ele
possa ser o nosso candidato em 2022, e com boas chances de ganhar.
FORA BOLSONARO, MOURÃO E TODA SUA QUADRILHA!
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