Comunicação Digital nas Eleições de 2018
Introdução
O meio é ou faz parte da mensagem?
Nos anos 1960 um sociólogo canadense, Marshall McLuhan, foi
muito discutido nos meios acadêmicos, e fora dele também, em função de sua tese
de que “O Meio é a Mensagem”. Nos tempos das contestações da contracultura e
dos avanços significativos da tecnologia, essa discussão ganhou o mundo. O que
se viu em seguida foi uma desmistificação dessa tese, que ficou restrita aos
Estados Unidos, em função da visão da dominação pela tecnologia da sua
sociedade. Principalmente com a descoberta de que a produção de McLuhan foi
impulsionada por empresas de marketing.
De uma forma geral o que sobrou dessa discussão é que de
fato o meio não é a mensagem. O meio em si é um mecanismo de transporte que não
agrega nenhum sentido ou significado à mensagem que transporta. Por mais que a mensagem tenha que ser sempre
construída de maneira apropriada ao meio que a transportará. A chegada dos portugueses
ao Brasil no século XVI foi comunicada ao rei de Portugal em uma carta
relativamente longa e bastante descritiva e que seria recebida após algumas
semanas de viagem em uma caravela. Esse evento no século XXI seria comunicado
ao rei em tempo real, por um post “Chegamos aqui” seguido de várias fotos,
selfs e filmes. Se a internet estivesse boa até mesmo uma “live”!
O universo “fakenews”
Esse não é um fenômeno moderno. Nem sequer é novo, é muito
antigo. Tão antigo quanto a história. Há registros de fakenews na Grécia
antiga. Os romanos manipulavam os informes ao povo. A Inquisição destruía
reputações e queimava pessoas usando boatos e inventando crimes. A guerra do
Iraque começou com a alegação que havia armas químicas, que nunca foram
encontradas, em estoque prontas para uso.
Marc Bloch, um historiador alemão, depois de voltar da
Primeira Guerra e assombrado com a quantidade de notícias falsa e boatos,
escreveu:
“As notícias falsas mobilizaram
as massas. As notícias falsas, em todas as suas formas, encheram a vida da
humanidade. Como nascem? De que elementos extraem sua substância? Como se
propagam e crescem?”
“Um erro só se propaga e se
amplifica, só ganha vida com uma condição: encontrar um caldo de cultivo
favorável na sociedade onde se expande. Nele, de forma inconsciente, os homens
expressam seus preconceitos, seus ódios, seus temores, todas as suas emoções”.
Em 1921 ele já falava que a base das notícias falsas é a
existência de pessoas que queiram acreditar nelas.
As tecnologias disponíveis hoje
Apesar de hoje designarem genericamente as ferramentas de
comunicação disponíveis na internet, a rigor redes sociais são os aplicativos e
sites que funcionam como era o Orkut e como é o Facebook hoje, por exemplo.
Elas permitem que as pessoas publiquem informações em diversos formatos, formem
comunidades digitais, encontrem pessoas, publiquem informações pessoais, etc.
São ferramentas que usam tecnologias específicas e trabalham com volumes
gigantescos de dados que ficam permanentemente armazenados em seus servidores.
Levantar perfis específicos de grupos com essas ferramentas é muito fácil, uma
vez tendo acesso as suas bases de dados e informações.
Se alguém quer divulgar um produto para mulheres negras, que
morem em cidades de praia do nordeste, que sejam casadas, tenham filhos e entre
30 e 40 anos, o Facebook pode dirigir a propaganda para esse grupo específico.
Esse produto pode ser, por exemplo, um carro.
Mas também é possível saber o que pensa esse mesmo grupo de
mulheres sobre carros para poder lhes enviar propaganda focada no tipo de carro
que esse grupo de pessoas prefere. E é aí que mora o problema quando esse tipo
de ferramenta é usado para propaganda política. Com acesso a dados específicos
sobre as pessoas, as campanhas podem enviar material específico ou para
combater ou para reforçar uma ideia, tentando moldar o juízo de valor das
pessoas. E com isso se constrói ou destrói candidaturas.
Trump é acusado nos Estados Unidos de ter feito isso. A
empresa Cambridge Analytica com uma imensa quantidade de dados obtidos do
Facebook, que podem ter sido roubados, mas também vendidos, montava conteúdos, na
maioria das vezes fakenews, para serem distribuídos por robôs ou bots.
Como os dados ficam permanentemente armazenados nos
servidores do aplicativo, eles podem ser também permanentemente analisados. É
possível assim que, a partir dessas informações, perfis completos das pessoas
sejam montados e também levantada toda a sua rede de relacionamento.
Há também bots que varrem aplicativos como o Facebook e o
Twitter caçando palavras ou expressões específicas para gerar resposta
automáticas. Isso pode ser feito porque a rigor um usuário de uma dessas redes
tem acesso a todos os outros. Uma pesquisa por Maria no Facebook me dá o acesso
a todas as Marias, possibilitando a um robô ler todas as mensagens de todas as
Marias que não tenham suas contas fechadas. E mesmo para as que são fechadas o
robô pode enviar uma solicitação de amizade que se for aceita irá dar acesso a
todas as mensagens dessa Maria específica.
As redes sociais são altamente monetizáveis. São
repositórios sem fim de informações sobre as pessoas. E se pode enviar
mensagens extremamente segmentadas para públicos alvo muito específicos,
levando conteúdo que certamente atinge essas pessoas. Por isso que o Facebook
ganha rios de dinheiro e tem um valor de mercado altíssimo. O impulsionamento
do Facebook trabalha com essas informações para dirigir a mensagem aos grupos
certos. Desde que se pague para isso.
Outros tipos de tecnologias são as usadas por ferramentas de
troca de mensagens, como o WhatsApp ou Telegram. São ferramentas de comunicação
ponto a ponto que não dão visibilidade dos usuários a todos os outros. O SMS,
ou torpedos, é também uma dessas ferramentas. Em todas elas, para que se envie
uma mensagem, é preciso saber o número do telefone do destinatário. Não há como
se buscar por uma Maria dos Santos para se enviar uma mensagem. É preciso saber
o telefone dela. Mesmo que se possa formar grupos, continua sendo uma
ferramenta de troca de mensagens. Não há um perfil registrado com informações
pessoais como nome, e-mail, lugar onde mora, etc. As mensagens também não ficam
armazenadas nos servidores, somente se se fizer backup. Logo não é possível se
levantar perfis. A própria natureza de troca mensagens dificultaria muito essa
tarefa, mesmo com acesso às mensagens.
Quase todas oferecem criptografia de ponta a ponta. A
mensagem é criptografada na origem, é transmitida dessa forma, e somente é
descriptografada no destino. Com isso se procura garantir que durante a
transmissão da mensagem pela internet, mesmo que se consiga interceptar a
mensagem, seja impossível ver o conteúdo.
Os aplicativos de mensagens são de difícil monetização. Não
há dados para serem vendidos porque não há cadastro. Também não há conteúdo
publicado que possa servir de base para segmentação. As mensagens são ponto a
ponto, pessoa a pessoa. Ou entre pessoas de um grupo. Como as mensagens não
ficam armazenadas nos servidores do aplicativo não há como fazer análises sobre
elas. Na tentativa de monetizar o WhatsApp, o Facebook, que é o dono do
aplicativo, vem tentando cruzar informações entre os dois, o que tem sido
considerado ilegal nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
As eleições de 2018
Antecedentes
Os pontos acima foram destacados para que a discussão do que
houve nas eleições de 2018 fique mais clara.
Uma vez que fique caracterizado que o meio não é a mensagem,
o fato da internet ter sido usada intensamente durante a campanha não pode
tirar o foco de que a análise deve estar na mensagem e não no meio usado para
difundi-la. O meio pode ser determinante do formato da mensagem e da sua
construção, mas não interfere no seu conteúdo.
Assim como não se usa a mesma mensagem para um jornal
impresso para a televisão, o mesmo vale para a internet.
Conceitos de Guerra Híbrida passaram a ser utilizados.
A questão então se divide em duas, uma vez definido que
público quero atingir: que mensagem se quer transmitir e qual o meio que se
quer usar para atingir de forma mais eficiente o público alvo. Com isso se
formata a mensagem da maneira mais adequada ao meio, e se trabalha as formas
mais eficientes de tratar com esse meio.
A eleição de Trump e o Brexit usaram ferramentas e táticas parecidas.
Com dados de milhões de usuários do Facebook, principalmente, foram feitas
análises, utilizando técnicas de bigdata, para micro segmentar esses usuários
em pequenos grupos de interesse específico. E enviadas mensagens de conteúdo
específico para cada um dos micro segmentos, buscando atingir seus interesses.
Milhares de bots e de pessoas trabalharam nisso. Por exemplo, enviando
mensagens do candidato contra as pessoas LGBTs para grupos de religiosos xiitas
e ultraconservadores.
Os russos são acusados, e muito provavelmente fizeram, de
ter usado esse tipo de expediente para inundar as duas campanhas com fakenews
para modelar a opinião das pessoas de acordo com seus interesses. No caso do
Estados Unidos, eleger Trump. As pessoas eram bombardeadas com informações
preparadas para elas influenciando sua opinião. Coisa semelhante foi feita no
Twitter com a ação de milhares de bot.
Apesar de na eleição de Obama já se ter usado bastante a
internet, na eleição de Trump e no Brexit o uso da internet, principalmente
para a distribuição de fakenews, foi muito mais significativo e teve muito mais
influência no resultado. E ambos os casos a empresa Cambridge Analytica teve
papel muito importante. Importante e sujo a ponto de ter fechado as portas sob
pesadas acusações de fraude. Mas entregou o resultado que se esperava dela.
Nesses casos as ações foram centradas no Facebook e no
Twitter. O WhatsApp não é muito usado em outros países, principalmente nos
Estados Unidos. Para troca de mensagens lá se usa mais o SMS. Assim não fazia
muito sentido uma estratégia de comunicação baseada em trocas de mensagem. Não
foi esse o caso do Brasil.
A grande diferença entre as duas estratégias é que Facebook
e Twitter são ambientes em que se pode acessar o que quase todos publicam, leem
e compartilham. O Whatsapp e ferramentas semelhantes não são penetráveis.
Já aqui no Brasil o WhatsApp é intensivamente usado.
Praticamente todos os celulares tem o app instalado. O Facebook não tem o mesmo
uso intenso que nos Estados Unidos.
A conclusão que se chega é que aqui no Brasil, pela presença
quase que total e pela pouca visibilidade do que se faz, a ferramenta mais
indicada para um trabalho subterrâneo eficiente e eficaz é mesmo o WhatsApp.
Em 2013 pela primeira vez se viu no Brasil a capacidade de
mobilização que o uso correto das comunicações pela internet tem. Um movimento
que a princípio parecia espontâneo e sem liderança na verdade havia sido
articulado e convocado usando somente a internet. Quase não havia referências a
isso na imprensa. Nenhum partido político ou entidade tradicional do movimento
popular estava envolvido com aquela articulação. E milhares foram para a rua,
chamando a atenção do país inteiro. O movimento que havia nascido para não
permitir o aumento das passagens de ônibus, ganhava contornos de ser contra
“tudo isso que está aí”. Depois de alguns dias de intensa mobilização o
movimento reflui. Impediu o aumento da passagem em São Paulo e deixou grande
exemplo de como um novo meio de comunicação era um importante meio de
mobilização política.
Nas eleições de 2014, apesar da disputa travada nas redes
sociais, o impacto da internet não foi muito significativo. O centro das
campanhas ainda estava nos meios tradicionais, principalmente a televisão. O PT
ganhou por pequena margem de votos e com a vitória deixou de lado o trabalho
nos meios digitais. Esses ainda eram vistos como um complemento à estratégia
focada, como em todas as outras campanhas, na televisão. Daí a necessidade da
mais ampla coligação, não somente para governar, mas principalmente para
agregar um bem precioso: tempo de televisão na propagando eleitoral gratuita.
No encerramento das eleições de 2014 Bolsonaro se lança
candidato para as eleições de 2018. Claro que ninguém se importa com isso. Que
diferença fazia em 2014 se ele seria ou não candidato no longínquo 2018.
Principalmente com a conjuntura se agravando para o governo Dilma, com todo
tipo de boicote, má vontade da mídia, sabotagem e pautas bombas. E enquanto o
centro da política travava a batalha do golpe, o impeachment, Bolsonaro tocava
a campanha dele sem ninguém dar nenhuma atenção.
Entre 2015 e 2016 a força de usar as ferramentas da internet
para mobilizar gente ficou evidente. As forças de direita, com o grande apoio
das mídias tradicionais de propriedade da classe dominante, usaram mais uma vez
a internet para levar milhares de pessoas às ruas em todo país. Dessa vez já
não como uma ação meio improvisada e espontânea. Com o apoio da força dessas
pessoas nas ruas, as classes dominantes dão o golpe e promovem o impeachment de
Dilma pondo Temer, e sua Ponte para o Futuro, na presidência da república. E o
PT e a esquerda em geral ainda sem compreender o alcance da utilização da
internet na movimentação do povo e da classe trabalhadora.
As principais ferramentas utilizadas até então eram o Facebook
e o WhatsApp. O MBL, Vem pra Rua e outros movimentos de direita usaram e
abusaram dessas ferramentas. Cada um deles tinham, e ainda têm, centenas de
milhares de seguidores.
A estratégia de Bolsonaro
Bolsonaro sabia que não era conhecido, não teria o apoio de nenhum
dos grandes partidos, o que não lhe daria tempo de TV, não tinha apoio do
núcleo da classe dominante e não tinha militância para estar nas ruas fazendo
campanha. Aparentemente uma candidatura inviável. Como superar essas
dificuldades era a grande questão. Ao redor dele se articulava um núcleo duro
formado principalmente por militares, pelos filhos e por poucos políticos com
pouca expressão, ligados à igreja
evangélica e a bancada da bala. Não havia ninguém nem nenhuma instituição de
peso que o apoiasse.
A estratégia então tinha dois polos principais. Para
torna-lo conhecido viajar pelo país continuamente, fazendo o maior barulho
possível na sua passagem por cada local, para chamar a atenção das pessoas e
ganhar algum espaço nas mídias locais. O outro polo era usar a internet para se
comunicar diretamente com os eleitores, superando a falta de tempo de televisão
e de militância de rua.
Há sinais de que militares apoiaram a construção das táticas
de construção da campanha. Os conceitos de guerra assimétrica e de guerra
híbrida, de domínio dos militares, foram bases dessa campanha. Se não temos o
mesmo “poder de fogo” dos inimigos vamos construir uma campanha que busque
tirar vantagem dos aspectos da assimetria não considerados pelas forças com
maior poder. Assim como os Vietcongs tinham nas táticas de guerrilha, que
forçavam os americanos a lutar um tipo de guerra não convencional que eles não
conheciam e que suas armas e poder militar não faziam o efeito esperado, a
campanha de Bolsonaro investiu pesado no uso da internet. As movimentações de
2013 e 2016 no Brasil e as primaveras do mundo árabe mostravam que as redes
sociais e de troca de mensagens teriam um papel central nas eleições de 2018.
Da campanha de Donald Trump, já em 2016, e da mobilização de
tropas a favor do impeachment no Brasil, vieram a confirmação do acerto dessa
tática, e que o uso massivo de fakenews e da desconstrução dos adversários era
mesmo o caminho a ser trilhado. Também do uso intensivo de robôs, ou BOTs. Há
avaliações que a campanha dele chegou a usar meio milhão de BOTs.
Ao longo dos anos Bolsonaro veio criando um ambiente de
confiança ao seu redor. Essa foi a primeira e mais importante etapa: fazer as
pessoas confiarem nele e no que ele falava. Aí foi criada uma forte relação de confiança,
criando o ambiente necessário para os objetivos da campanha. Ele passa a ser
uma pessoa conhecida do seu público alvo. E esse público espontaneamente
ampliava essa base de confiança, tornando-o ainda mais conhecido. E com isso é
criada uma rede de milhões de pessoas. Uma rede horizontal, sem um centro de
comando claro e bem definido e que estimula as pessoas não só a replicar os conteúdos,
mas elas mesmas produzirem conteúdos que repliquem as ideias centrais sendo
divulgadas. Com isso há uma subversão na forma de produzir, distribuir e divulgar
conteúdos.
Nesse processo Bolsonaro se volta contra “os poderosos” ou
contra “tudo isso que está aí”, acelerando a guerra híbrida. Ainda de maneira
difusa, sem se colocar explicitamente como candidato, mas criando o ambiente
necessário para a sua candidatura. Ele se volta contra os que são agentes de transmissão
de informações de forma filtrada e verticalizada, desacreditando todos:
políticos, imprensa, ONGs, etc.
As pessoas sentem a proximidade de alguém em quem elas
confiam. Elas se engajam de forma voluntária em um processo sem fim de replicar
e construir conteúdos divulgados nas redes que participam: famílias, colegas de
trabalho, crentes da mesma fé.
Bolsonaro fala diretamente com as pessoas, sem
intermediários. Suas mensagens, além de falar o que as pessoas já estavam querendo
ouvir, soa familiar, próxima, gente como a gente. Sobre o caldo criado
anteriormente ele vem como o catalizador, simbolizando a resolução das angústias
de todos. Mesmo que essas angústias tenham sido estimuladas por fakenews.
Bolsonaro é um deles, se comporta com eles, sofre as mesmas dores que eles e
pode resolver todos os problemas sendo o presidente do Brasil. A candidatura
está sendo construída. E no movimento contrário, desconstruindo a candidatura
dos adversários. A direita e o centro tradicionais não servem porque fazem
parte do grande esquema, junto com a mídia tradicional. No fim não querem mudar
nada tanto assim, querem somente manter seus privilégios. E a esquerda é o
demônio, principal e explicitamente o PT. Sem se ater ao debate das políticas
socias e econômicas do partido, a base do ataque se desloca fortemente para o
campo moral, explorando ao máximo o conservadorismo. E de novo tudo a base de
fakenews: kit gay, “mamadeira de piroca”, escola tomando o lugar dos pais na
educação sexual, discussão de gênero, papel da mulher e por aí vai. O PT estava
transformando, e se se elegesse concluiria o serviço, nosso país em uma Sodoma
e Gomorra de proporções gigantescas. Até acusações de estímulo a pedofilia
entraram no cardápio.
Nadando de braçada no ambiente criado pelo golpe de 2016, o
combate às pautas dos Direitos Humanos virou foco. Na maioria das vezes essas
pautas combatidas eram do interesse de grupos econômicos com interesses
específicos, como o da mineração nas terras demarcadas como reservas indígenas.
O WhatsApp foi a base tecnológica de todo esse trabalho. Mas
também o Facebook e o Twitter foram usados com menor intensidade. Os dois
primeiros têm uma enorme vantagem: o uso não é abatido do pacote de dados dos
usuários. Encaminhar conteúdos não custa nada para os seguidores. E para os
grandes volumes, acionados por robôs, os empresários amigos pagam por fora da
contabilidade da campanha. O bom e velho caixa 2. Os pagamentos são feitos
diretamente pelos empresários de uma forma que tenta esconder da justiça. Os
envios em massa de mensagem até agora não têm nem origem nem quem contratou
identificados.
Alguns números, que ajudam a entender o cenário, são
importantes. Pesquisa Datafolha, pouco antes do primeiro turno das eleições, mostrou
que 57% dos eleitores de Bolsonaro usavam o Facebook, em comparação com cerca
de 40% dos de Haddad. No WhatsApp a situação era aproximadamente a mesma: 61% do
lado de Bolsonaro e 38% do lado de Haddad. 31% da base de Bolsonaro
compartilhavam seus conteúdos no Facebook e 40% no WhatsApp. Enquanto 21%
compartilhavam no Facebook e 22% da de Haddad. Bolsonaro saiu de 7 milhões de
seguidores em todas as plataformas em janeiro de 2018 e chega a 18 milhões em
outubro. Haddad parte de 800 mil e alcança 4 milhões de seguidores no mesmo
período. Bolsonaro parte de uma base de tamanho quase o dobro com a que Haddad
chega em outubro na campanha. Esses números mostram o quanto o uso das redes e
do WhatsApp foi importante na campanha em 2018 e na de Bolsonaro em particular.
Os financiadores da campanha de Bolsonaro não são pessoas
públicas. Dessas que estão nas capas das revistas de negócios e dos jornais. As
indústrias de armas, de mineração e a religiosa, o agronegócio, dentre outros
ramos de atividade, estão longe dos holofotes, mas presentes na campanha,
organizando e pagando. E, em lugares de pouca visibilidade, subindo nos
palanques. E até mesmo em ações de coerção de funcionários, com no caso das
lojas Havan.
Tudo isso acontecia nas barbas da justiça em geral e da
eleitoral em especial. O aparato judicial do Estado brasileiro, por má vontade
ou por incompetência, não conseguiu agir sobre essas ações orquestradas de
mentiras e calúnias contra pessoas, instituições, movimentos e partidos. Quando havia uma denúncia, até os tribunais se
pronunciarem e ordenarem a retirada da notícia falsa, ela já havia se
reproduzido aos milhões, e outras novas já estavam em circulação. E mesmo
quando a justiça proibiu expressamente o uso do kit gay, Bolsonaro, ele
próprio, ignorou essa decisão e seguiu falando. Não que se pudesse esperar uma
intervenção mais dura da justiça, mas não se preocuparam nem em preservar as
aparências.
Uma análise política das estratégias de Bolsonaro e do PT
Uma vez explorada a mecânica e os fatores de comunicação da
campanha de Bolsonaro, a grande questão é: por que ela deu certo? Do ponto de
vista do uso das várias tecnologias de comunicação disponíveis certamente há
aqui uma quebra de paradigma: a internet foi mais eficiente na comunicação com
o eleitor do que os meios mais antigos. Prova disso é que o candidato que
dispunha de mais tempo de TV e rádio, Alckmin, e Meireles, que também tinha boa
fatia de tempo nesses meios, tiveram votação pífia e não chegaram nem perto do
segundo turno. Bolsonaro com poucos segundos desse tempo ganha as eleições.
E o PT? Tinha um bom tempo de rádio e TV e uma presença, bem
menor que a de Bolsonaro, mas expressiva, na internet. E tiveram três fatores
que nenhum partido ou candidato teve. Em primeiro lugar, e disparado o mais
significativo: sua militância. Em segundo lugar, mas muito significativo, o
líder mais popular da nossa história recente: Lula. E em terceiro lugar um
legado expressivo de melhoria das condições de vida do povo, especialmente dos
mais pobres. Enquanto esteve na disputa Lula era o líder disparado com chances
de ganhar no primeiro turno. E com a saída de Lula em poucos dias Haddad assume
o segundo lugar na disputa e vai assim até o final, passando para o segundo
turno com mais do que o dobro da votação do terceiro colocado, Ciro, e seis
vezes mais que o quarto, Alckmin.
A questão central aqui não é o uso de ferramentas de
comunicação. Como visto, o meio não é a mensagem. O WhatsApp não é o satanás
dessa história, assim como a TV e o rádio nunca foram. Aconteceu nas eleições o
que já vem acontecendo no resto do mundo: há cada vez mais alternativas de
meios de comunicação. Muitas pessoas, principalmente jovens, nem veem mais TV
aberta. A TV não é mais o centro da sala nas casas. Cada vez mais disputa
espaço com os computadores e mais ainda com os celulares. O cenário dos meios
de comunicação é cada vez mais híbrido.
O fato novo é que a informação, mesmo a jornalística, não
passa mais por um cenário de intermediação, por protocolos jornalísticos principalmente.
Há milhares de blogs e de youtubers produzindo e divulgando informações que,
mesmo os que são conduzidos por jornalistas profissionais, não estão submetidos
às regras das redações. Nesse ambiente é difícil discernir fato que é apurado
da opinião de quem escreve sem controle. Com isso acreditar ou não no que se vê
divulgado passa a ser uma questão de a informação estar ou não aderente às
crenças individuais, sem a chancela da mídia tradicional, Globo, Folha de São Paulo,
Rádio Jovem Pan e por aí a fora, ou da mídia alternativa e mais responsável com
o conteúdo que publica, como Jornalistas Livres, Diário do Centro do Mundo e
outros. Mas as crenças pessoais não são
tão individuais assim. Elas são resultado do contexto social em que se vive. E é
nesse contexto e espaço social que as classes disputam. Ou seja, em última
instância é a luta de classes que permeia, como em toda a nossa vida social, essa
disputa. E é nessa esfera que o embate eleitoral precisa ser avaliado. Não há
ferramenta matadora. Aquela que é invencível em qualquer situação e que irá
contribuir decisivamente nas próximas eleições. Isso não significa que podemos
desprezar ou relegar ao segundo plano a internet. O cenário de comunicação é
definitivamente híbrido. Os grandes e tradicionais meios de comunicação,
jornal, tv, rádio, seguirão existindo. Mas com a concorrência de um meio sem
intermediação que é a internet. Por isso é importante dominar esse novo espaço
desafiador.
Os principais objetivos do golpe de 2016 eram tirar o PT do
governo, impedir que o PT voltasse em 2018, e aí a questão era interditar Lula,
e acabar com o PT. A sequência de acontecimentos que sucederam a eleição de
Dilma em 2014 intensifica a insatisfação da classe trabalhadora e do povo com
os rumos do governo. Há uma articulação de todo o aparato institucional,
inclusive e principalmente da justiça e da mídia corporativa, para derrubar o
PT, minando dia após dia a confiança da classe trabalhadora em seu partido. A
resposta do governo à crise econômica é ruim, assumindo feições neoliberais, e
ainda por cima é diariamente sabotada por pautas bombas e massacrada pela
imprensa corporativa. Apesar de sair vitorioso das eleições o PT não consegue
reagir nesse cenário. Não consegue trazer a classe trabalhadora para a defesa
do seu governo, dos seus ganhos e da continuidade do projeto de melhorias nas
condições de vida e trabalho do povo. Parte da classe trabalhadora não se sente
mais representada por aquele governo, apesar de ter reelegido Dilma, e não se
mobiliza na sua defesa e, pior, se soma aos protestos contra o governo. O
governo e a direção do PT seguem negligenciando a luta nas ruas, nas fábricas,
nos locais de trabalho e estudo e nos locais de moradia, privilegiando a
disputa institucional, a negociação no parlamento e em outras instâncias do Estado
burguês.
Esse cenário leva ao impeachment, materializando o primeiro
objetivo. O partido, que nunca deteve o poder, que sempre esteve com as classes
dominantes, perde o governo. A resposta política do partido a isso é fraca pois
perdeu o momento de mobilizar a classe trabalhadora com tentativas de acordo, e
com isso o PT, o seu governo e Lula em particular, carregam a responsabilidade
por todos os problemas que o país passa a enfrentar. Cresce na população um
forte sentimento anti-PT. E o combate a corrupção se resume a caçar o PT e
Lula. O PT se transforma no paradigma da corrupção e do desgoverno para o povo
em geral. O ápice desse processo de desgaste e de vacilação da direção
partidária é a eleição de 2016. O partido sofre uma derrota histórica e perde a
prefeitura em cidades importantes. Em São Paulo não ganha em nenhuma das
cidades da região do ABC e Haddad perde ainda no primeiro turno a reeleição.
Nesse cenário o partido vira presa fácil da comprometida
justiça brasileira. A operação lava jato avança com determinação fechando o
cerco sobre Lula e o partido com um todo. Lula é preso e o segundo objetivo, na
sequência, um pouco mais à frente, é cumprido com a interdição da candidatura à
presidência.
O efeito colateral da lava jato é contaminar toda a
atividade política com os estigmas da corrupção e do roubo mais deslavado. A
desconfiança em relação aos políticos e as suas práticas acaba por contaminar o
executivo e o legislativo, instituições da república dirigidas na sua maioria
por eles. Na aparência, e mesmo assim com seguidas críticas, somente o
judiciário pode salvar o país. Com Moro à frente.
É nesse cenário que a estratégia de Bolsonaro tem todo
espaço para sair vitoriosa. Ele também explora fortemente o conservadorismo
moral da maioria do povo brasileiro e a falência da segurança pública. Com o
conservadorismo ele atrai as lideranças do negócio da exploração da
religiosidade do povo, especialmente das igrejas neopentecostais, e carrega
ainda mais de preconceitos o seu discurso, basicamente em cima da farta
distribuição de notícias falsas. A população assustada com o crescimento da
criminalidade e com a falta de segurança passa a ver com bons olhos o discurso
violento do tipo “bandido bom é bandido morto” e os ataques as políticas de
direitos humanos, que são desconstruídas com as falsas notícias de que somente
os bandidos são protegidos pelas ações em defesa desses direitos. As periferias
e comunidades pobres das grandes cidades estão dominadas e controladas pelo
crime organizado. O Estado deixa de cumprir a função de proteger as famílias
dos criminosos. E nas áreas controladas por facções e milícias não tem
condições de manter operando serviços básicos para a população.
Algumas questões surgidas em pesquisa da Fundação Perseu
Abramo, feita na periferia da cidade de São Paulo, ajudam a entender esse
cenário. Sobre a visão que essa população tem do Estado: “O
Estado não cumpre o seu papel. Só demanda dos cidadãos (impostos) e não devolve
em serviços de qualidade. É ineficaz!”. É visto mais como um inimigo que
como tal precisa ser batido. Mas ao contrário da pregação neoliberal essa
população quer um Estado eficaz, que funcione, que lhe proteja do crime e que
lhe forneça condições de vida e trabalho minimamente decentes. Há uma demanda
por serviços básicos que não é atendida. A meritocracia é uma componente
importante, apesar de considerar importantes políticas públicas e garantia de
acesso a oportunidades. Na questão religiosa impera uma visão de religião de
resultados, muito alinhada com a teologia da prosperidade das igrejas
neopentecostais. Um aspecto interessante revelado nessa pesquisa é que as
figuras públicas mais admiradas são Lula, Silvio Santos e João Doria. Esse são
exemplo de brasileiros que venceram na vida com seu próprio esforço, na visão dessas
pessoas.
As ferramentas tecnológicas utilizadas não foram uma bala de
prata. Elas foram usadas com domínio e eficiência técnicas, comunicaram as
mensagens em uma rede que foi formada ao longo de quase 4 anos e que
encontraram parte da classe trabalhadora e do povo em um nível de insatisfação
e desesperança muito grande, e que não viam mais nem no PT nem nas instituições
capacidade de agir para atenuar seu sofrimento e suprir suas necessidades
básicas. A campanha de Bolsonaro foi aluna exemplar dos ensinamentos das guerras
híbridas e assimétricas. Fez uma leitura correta do estágio da luta de classes e
usou as ferramentas com que podia contar: a internet e a figura e o discurso
enlouquecido de Bolsonaro. Resumindo, no popular, quem não tem cão caça com
gato. E o gato foi de uma eficácia e de uma eficiência exemplares.
O campo do PT por sua vez acertou em alguns aspectos
fundamentais, como ter levado até o limite a candidatura de Lula. Mas errou em
alguns, que podem não ter sido a razão da derrota, mas podem ter custado muitos
votos. Do ponto de vista da internet o maior erro foi a falta de um trabalho
que deveria ter começado logo após as eleições de 2016 ou até mesmo antes.
Quando o trabalho da campanha de Bolsonaro foi percebido não havia mais como
recuperar o tempo perdido. Do ponto de vista político errou ao praticamente
parar a campanha por quase uma semana após o primeiro turno buscando apoios
onde não acharia nada, como de fato não achou.
Mas o fator de maior peso, o que define o que é o PT e o seu
campo, toma as ruas em todo país: a militância. Mesmo sem orientações políticas
claras, sem material oficial de campanha, sem muita articulação dos comitês
oficiais e sem a interferência maciça da internet, Haddad ganha 16 milhões de
votos entre o primeiro e segundo turnos. Um crescimento de quase 50%. A
campanha ganha as ruas, o Vira Voto se torna mania nacional. A campanha de
Bolsonaro, que esteve perto de ganhar no primeiro turno, perde o ímpeto. Há
quem avalie que se a campanha durasse mais uma semana Haddad teria vencido.
Não foi uma luta de Davi contra Golias, longe disso. Foi uma
luta onde cada lado utilizou as melhores armas que dispunha. Mas um lado estava
melhor preparado e com uma leitura da conjuntura mais precisa que o outro.
O que podemos apreender
Se Bolsonaro teve as redes e as fakenews, o PT e seu campo
tiveram a militância, um líder e um legado positivo para defender. Nesse
cenário se pode dizer que a vantagem nesse momento é do campo do PT, que pode
aprender a usar com eficiência as ferramentas e técnicas de comunicação na
internet. Bolsonaro não pode criar uma base militante de um dia para outro.
Tanto que no discurso que fez na diplomação diz que hoje a população não
precisa mais de intermediários para falar com os governantes pois existe a
internet. Com isso ele demonstra que irá seguir com sua estratégia baseada na
comunicação com seus apoiadores de forma direta usando as redes. Mas o que foi
bom para se eleger pode não ser para governar.
Além das questões políticas, que não serão tratadas aqui, é
urgente e necessário que o campo popular trate da questão de comunicação
suportada pela internet de forma profissional e permanente. Sem emular o que a
campanha de Bolsonaro fez, trabalhar no campo das fakenews, fazer com que os movimentos
populares, os sindicatos, as associações de moradores, enfim, a militância de
base, que está nos territórios, que disputa nas ruas, entendam as
possibilidades de uso das redes. Essas são ferramentas importantes para o
trabalho de base, para a articulação e a formação políticas. São ferramentas
que vão municiar a militância com informações e material de comunicação para o
seu dia a dia no contato com o povo. A formação política e o uso das
ferramentas, dentre outras, também são atividades que podem girar ao redor de
ferramentas digitais disponíveis. É a formação pelas redes e para as redes.
Em resumo a internet e suas ferramentas devem ser, para o
campo popular, um espaço de formação, articulação, divulgação e comunicação
direta, tanto com a militância quanto com sua base social: os trabalhadores e o
povo. É preciso assim urgentemente construir uma política e mecanismo de ação
nesse espaço de comunicação.
O esboço de uma política
Casa das Redes - Ativistas com Haddad
Ainda antes do primeiro turno havia muita discussão em
grupos de ativistas digitais no WhatsApp e em outros aplicativos sobre como
poderiam ajudar na campanha. Logo após o fim do primeiro turno alguns desses ativistas
se reuniram para discutir a construção de algum tipo de reação coletiva nas
redes à campanha suja de Bolsonaro. A Casa das Redes surge a partir dessas
discussões. O grupo reuniu pessoas de várias especialidades da comunicação:
jornalistas, fotógrafos, analistas de dados, cineastas, editores de vídeo, TI,
etc. A ideia era reunir uma equipe capaz de pensar conteúdos, produzi-los de
forma autônoma e distribuí-lo. Um quartel general foi montado na casa de um dos
participantes e até o fim do segundo turno, 28 de outubro, esteve atuando. A
composição política desse grupo era eclética com militantes de vários partidos
políticos de esquerda, sem partido e dos movimentos sociais. Não havia qualquer
conexão formal com a campanha, era uma iniciativa dos ativistas envolvidos. Mas
havia um diálogo constante com a campanha.
A Casa funcionou por 15 dias, entre 13 e 28 de outubro.
Nesse período, utilizando a plataforma Ativistas com Haddad, se formou uma rede
de cerca de 57.000 militantes da campanha que passaram a ter acesso e
distribuir todo material produzido pela Casa. Imaginando cada uma dessas
pessoas podem atingir outras 20, tínhamos um potencial teórico de alcançar mais
de um milhão de pessoas.
Casa das Redes - Ativistas com Haddad – Resumo da experiência
Principais aspectos iniciais:
·
Atuação por 15 dias, entre 13 e 28 de outubro
·
Primeira reunião: 13 de outubro
·
Nessa reunião 70 voluntários se dividem em 4
frentes
·
Divisão do grupo em 4 frentes ou grupos de ação
o
Produção de conteúdo: produção de vídeos,
imagens, memes, cards, áudios, textos, etc.
o
Distribuição: definir e operar a infraestrutura
de TI necessária para a distribuição do conteúdo produzido
o
Análise de dados: produzir análises dos dados e
pesquisas disponíveis par orientar a produção de conteúdo e a distribuição
o
Articulação: articulador entre os grupos e com o
mundo externo
·
Diálogo constante com várias entidades,
ativistas e partidos: a campanha e a secretaria de comunicação do PT, militantes
do PCdoB e do PSOL, ativistas de outras iniciativas, como Jornalistas Livres,
Mídia Ninja e a CUT.
·
Buscar aproveitar expertises e conhecimentos
(médicos orientaram abordagens sobre saúde e p/ tentar virar votos de médicos,
educadores com as pautas de educação, etc)
·
Atuar em duas frentes: desconstrução de
Bolsonaro e das suas fakenews e apresentação da chapa Haddad/Manuela
·
Focar a produção de conteúdos para áreas
específicas (domésticas, evangélicos, pessoas com deficiência,
sustentabilidade...), temas de disputa (kit gay, Venezuela...) e linguagem mais
popular, bem-humorada ou sensacionalista
·
Ações integradas com grupos como Vira Voto,
Mídia Ninja, Cineastas pela Democracia, etc.
O primeiro movimento foi tentar, usando o WhatsApp, entrar
nos grupos bolsonarianos ou não e publicar os conteúdos produzidos. Essa
estratégia foi descartada em função das dificuldades técnicas, do custo e pela
baixa efetividade em função do fanatismo existente nos grupos de Bolsonaro. Também
o ímpeto inicial não se manteve e o grupo se estabilizou entre 10 e 15 pessoas
efetivamente ativas.
Diante dessa realidade se decidiu focar em uma plataforma
que foi oferecida por um dos Ativistas: o Ativistas com Haddad. O Site
Ativistas com Haddad usou como base tecnológica para sua construção um produto,
o Action Center, desenvolvido usando a plataforma de construção de comunidades
de ativismo digital Nation Builder.
O Nation Builder é uma plataforma de software usada em
diversas campanhas ao redor do mundo, entre elas o Brexit, as companhas de
Trump nos Estados Unidos e a de Macron na França.
O princípio dela é a construção de sites que se articulam em
arranjos hierárquicos ou não, formando grandes redes articuladas com a
capacidade de reunir e fazer a gestão de conteúdo de milhões de usuários: as
Nações, ou Nations em inglês. É uma plataforma hospedada na internet, que é
usada como um serviço que é pago pelo tempo que se usar, sem a necessidade da
instalação de softwares ou o uso de servidores próprios. Não há nenhum
investimento inicial, somente o custo mensal pelo uso, durante o tempo que se
usar. O site Ativistas com Haddad esteve ativo por 1 mês e foi pago somente o
custo desse mês de uso.
O Action Center é um produto construído tendo como base o
Nation Builder. É um site para incentivar e manter o ativismo permanentemente. O
princípio é a proposições de ações, diárias ou semanais, com material ou
orientações que suportem essas ações. A realização de cada ação contempla o
Ativista com uma quantidade de pontos, como em um jogo, estimulando uma espécie
de competição ou ranqueamento entre os Ativistas. Esses Ativistas precisam se
registrar no site, fornecendo as informações pessoais que se deseje. No mínimo
o e-mail tem que ser informado, o que permite que sejam enviados e-mails para
todos os usuários cadastrados. Também é possível compartilhar informações com o
Facebook e o Twitter.
Em resumo:
·
Nation
Builder: plataforma hospedada na nuvem da internet para a construção de
comunidades, as Nações, com a construção de sites que se articulam e se
comunicam, mas funcionam e podem ser gerenciados de forma independente
o
Não é uma plataforma para construir comunicação
em massa usando o WhatsApp.
o
É uma plataforma de construção de sites, cada um
com suas funcionalidades, características e design. Esses sites podem estar
articulados, permitindo a construção de uma hierarquia, por exemplo, Diretório
Nacional, que articula Diretórios Estaduais, que articula Diretórios Municipais
que podem articular Diretórios Zonais. E o partido pode estar relacionado, por
exemplo a Frente Brasil Popular ou a CUT, se todos fizerem parte da mesma
Nation.
o
Os mecanismos de segurança controlam as
permissões de compartilhamento entre os sites.
o
Dessa forma pode ser construído um ambiente que
permita a articulação de várias entidades, mantendo a independência de cada uma
delas.
·
Action
Center, ferramenta construída sobre o Nation Buider para a distribuição de
atividades ou Ações, Action em inglês, para uma comunidade de Ativistas
inscritos.
o
É uma plataforma para moldada para incentivar e
manter o ativismo permanentemente
o
Sua forma de agir é propor ações diárias, com
material de comunicação e orientações
o
Espírito de game: Cumprir uma tarefa rende
pontos ao ativista. Quem se engaja mais ganha mais pontos
A estratégia foi centrar a difusão de informações e
conteúdos na rede formada no Ativistas com Haddad com ações como: "envie
isso no grupo de zap da família", "comente isso na página de
fulano", etc.
Logo nos dois primeiros dias, sem muita divulgação, eram
10.000 usuários. Com aumento da divulgação o Ativistas viraliza nas redes. Há
aí um momento de suspeita em relação a confiabilidade. Com a divulgação pelos
sites da campanha e de Haddad, que estabeleceram a confiança na origem, se
chaga rapidamente a 57.000 usuários.
O diálogo permanente com a campanha, com voluntários de
outras redes e com outras iniciativas foi essencial para que o Ativistas com
Haddad estivesse em sintonia com as ações do campo que sustentou a candidatura
do Haddad.
Com o cadastro de e-mails podemos enviar emails personalizados
diários para os Ativistas com mensagens motivacionais, um resumo da conjuntura
e resumo das tarefas do dia.
Resumo da experiência:
·
57.000 pessoas se cadastraram. 200.000 acessaram
e podem não ter se cadastro em função de problemas técnicos iniciais, gerados
pela falta de domínio da ferramenta, e a desconfiança dos primeiros dias. Esse
cadastro está preservado
·
75.000 acessaram a plataforma em 16 de outubro.
·
6.000 acessos diários foi o número que se estabilizou
na última semana. Isso significa 6 mil pessoas cumprindo alguma tarefa e
disseminando conteúdos em suas redes
·
Feedbacks bastante expressivos que ajudam a
dimensionar as necessidades
·
Fonte de conteúdo sério e confiável, mensagem
clara e concisa, atentos ao que havia de mais importante no dia. Oferecíamos os
argumentos que as pessoas precisavam
·
Custo aproximado: 500 dólares por mês.
·
Foi desativada duas semanas depois do segundo
turno, quando completou um mês de uso.
Concluindo, o uso da plataforma Ativistas com Haddad aponta
um caminho que merece ser trilhado. Independentemente da plataforma de software
utilizada, a experiência nos mostrou que é possível a criação de uma rede que
articule militantes e não militantes em um ambiente seguro e onde é possível a
rápida disseminação de conteúdos e informações, independente das redes
comerciais, como Facebook e WhatsApp. Essa rede pode se espalhar para incluir
vários partidos e entidades, além do PT, de forma segura e independente, mas
com alta capacidade de comunicação interna. Com instruções e material de
divulgação adequados os Ativistas podem interagir com suas bases sociais,
família, vizinhos, colegas, amigos e em todos os grupos que participa, sejam
grupos na internet ou presenciais, levando a política do partido. Isso seria
gerar uma forte interação entre a militância nas redes e nas ruas, fazendo com
que uma complemente a alimente a outra.
Desafios importantes
1.
Disputar permanentemente os ambientes digitais. Nunca
abandonar os grupos de WhatsApp da família ou da turma do colégio, as
discussões no Twitter, os comentários nas matérias do UOL ou da Folha. São
nesses espaços que a batalha também está sendo travada. Não há restrições de
segurança que justifiquem sair de nenhuma rede ou aplicativo. Estar nesses
espaços é impedir que eles sejam hegemonizados pela direita e por nossos
inimigos de classe. Esse é o caminho para penetrar e furar as bolhas deles
2.
Aproveitar a experiência da Casa das Redes com o
Nation Building e criar uma rede hierarquizada de comunicação. Essa rede deve
interligar novas páginas do PT nacional com as de diretórios estaduais e
locais, abarcando as de campanhas eleitorais. Também podem estar nessa mesma “Nação”
grupos que extrapolam o PT como a CUT e a Frente Brasil Popular e até mesmo
outros partidos, como o PCdoB e o PSB ou PDT.
3.
Usando as ferramentas já conhecidas chegar ao
interlocutor que interessa e não esperar que ele venha por sua conta. Em
resumo: não adianta publicar uma nota ou uma denúncia no site do PT ou na
página da Gleisi ou de Lula no Facebook. O que houver de mais relevante, seja
informação ou tarefas, precisa chegar ao celular das pessoas com a nossa
narrativa, na nossa versão, para que possamos disputar essas opiniões. Vamos
até Maomé, não vamos esperar que ele venha até nós.
4.
Precisamos estar em todas as plataformas, do
rádio ao WhatsApp. Boletins diários e jornais eletrônicos com edição semanal
precisam chegar ao celular dos filiados e militantes do partido. E além desses a
todo campo progressistas. Sejam ou não filiados ao PT. Todos os que se aproximaram na esteira do
#EleNão e digitou 13 no segundo turno. Disputar esses eleitores e atrair
pessoas, mais que pregar para convertidos, é estar intervindo na luta de
classes a favor da classe trabalhadora.
5.
Desenvolver canais orientadores, espaços em que
lideranças digam o que é preciso fazer. Esse modelo de listar tarefas tem
potencial para manter uma rede mobilizada e ativa em médio e longo prazos, para
além dos períodos eleitorais.
6.
Buscar convergência da esquerda nas respostas e
articulações. O trabalho feito pela equipe de Bolsonaro certamente vai continuar
ao longo de seu governo. Teremos um eixo de discussão das ações de governo
deslocado da TV e dos sites para o WhatsApp, assim como vimos no processo
eleitoral.
7.
Alguns objetivos desse trabalho convergente,
envolvendo o PT e seu campo: combater mentiras e fake news, denunciar medidas
do governo Bolsonaro, pautar agenda proativas da esquerda, oferecer informações
e argumentos para os militantes falarem "para fora" da bolha.
8.
Construir um projeto, abrangendo o curto, médio
e longo prazo, de comunicação eletrônica. Esse projeto tem que ser construído
com a participação da Secretarias de Comunicações e com o Setorial de TI do
partido.
9.
Reunir em único banco de dados as informações de
simpatizantes e filiados com todas as informações de contato.
10.
Manter permanentemente, não somente nas
eleições, equipe interna com profissionais das áreas de comunicação e de TI.
Essa equipe será responsável por identificar e padronizar o uso de ferramentas
de comunicação para o partido. Será também responsável por definir e implantar
regras e ferramentas de segurança para as comunicações eletrônicas do PT. Seu
trabalho será pautado pelo Projeto de Comunicação do PT.
Ações de curto prazo: Comunicação geral
A experiência da Casas das Redes
pode ser usada como a base de ações de curto prazo. O primeiro ponto deve ser
montar uma equipe com os mesmos 4 grupos da Casa:
o
GT Articulação: articulação e coordenação dos
grupos. Contatos com o mundo externo: outros grupos, a direção do PT, movimentos,
etc.
o
GT Produção de conteúdo: produção de vídeos,
imagens, memes, cards, áudios, textos, etc.
o
GT Distribuição: definir e operar a
infraestrutura de TI necessária para a distribuição do conteúdo produzido
o
GT Análise de dados: produzir análises dos dados
e pesquisas disponíveis par orientar a produção de conteúdo e a distribuição
O Grupo de Articulação é a
direção da equipe e deve ter representantes da Secretaria de Comunicação e do
Setorial de TI do PT. Não está na estrutura política do partido. Deve ser um
órgão de operação e de assessoria da presidência do PT. Também pode estar
associado a Fundação Perseu Abramo como um embrião da construção de
departamento específico para tratar de questões relativas a comunicação
eletrônica, estendendo suas atribuições até mesmo a digitalização e construção
de acessos pela internet de todo o acervo da FPA.
Os demais GTs devem ter um
coordenador cada um, responsável pela comunicação com o GT Articulação e com a
coordenação do trabalho do grupo.
O ideal é que cada GT tenha um
membro profissionalizado. No GT de Articulação alguém contratado pela
presidência. Nos demais profissionais de cada área de conhecimento do GT. Os
demais podem ser voluntários e também em caso de necessidade pode haver
contratação de consultorias específicas.
A ferramenta utilizada, por
permitir uma curva mais rápida de aprendizado uma vez que já conhecida, deve
ser o Nation Builder. E também o Action Center pelas mesmas razões. Essas
escolhas permitem que no curto prazo já seja possível estar com alguma coisa em
produção já distribuindo conteúdos e informações para uma base de 57.000
pessoas cadastradas no Ativistas com Haddad. Essa seria a operação piloto do
projeto.
Cada GT é responsável pela
identificação de suas próprias ferramentas, programas e aplicativos. O GT de
Distribuição cuidará da validação de aspectos de segurança e de conectividade com
o que já existe, garantindo a integridade da rede e interoperação das
ferramentas.
O GT de Distribuição será o
responsável por iniciar a construção de um banco de dados único com as
informações de contato de militantes e simpatizantes e de todas aqueles que por
alguma razão querem manter contato com o PT. Esse banco será o embrião do uso
de big data pelo partido.
Ações de curto prazo: Comunicação pessoal ou em grupo
Muito se falou nessas eleições
sobre questões de segurança associadas ao uso do WhatsApp. Que se deveria
deixar de usar esse aplicativo por várias razões, mas principalmente pela
segurança. O WhatsApp tem mais de um bilhão de usuários no mundo e é intensiva
e extensivamente usado no Brasil. Nos Estados Unidos não é muito difundido.
Para troca mensagens lá o usado mesmo é SMS, ou torpedo.
Há muita polêmica em torno da
segurança do uso do WhatsApp. Mas não há nenhuma evidência de que a segurança
tenha sido quebrada e mensagens ou dados de usuários expostos por problemas com
a ferramenta. Até esse momento do ponto de vista estritamente técnico seu uso é
seguro.
Diante de não haver evidência de
furos de segurança e da imensa quantidade de usuários deve-se permanecer usando
para comunicações em massa e entre as pessoas de uma forma geral. O aplicativo
tem uma série de funções que ajudam o contato com pessoas e grupos.
Uma vez que o app é de
propriedade do Facebook sempre há a possibilidade de haver algum tipo de
colaboração com os órgãos de segurança dos Estados Unidos. Como toda a
comunicação do PT é por natureza pública, principalmente as que precisam
atingir milhares de pessoas, esse não chega a ser um problema.
No entanto há assuntos tratados
nas direções do partido e entre seus membros que não é conveniente que possam
ser acessados por ninguém fora da conversa privada ou do grupo. Assim é
importante a identificação de uma outra ferramenta que possa garantir
tecnicamente a segurança ponta a ponta da comunicação. O Signal já pode ser
usado imediatamente para essas situações, enquanto não há uma análise mais
detalhada de qual ferramenta deve de fato ser usada para esse fim.
Apesar de não ser mais uma
ferramenta de uso tão intenso quanto já foi, o e-mail ainda é importante.
Principalmente para a divulgação de textos mais longos ou para discussões de
temas em que é importante o registro de todas as contribuições. Precisa ser
melhor explorado e de uma infraestrutura que permita o envio massivo de
e-mails. O Nation Builder tem uma função de envio massivo de e-mails que pode
ser usada.
Outro ponto importante é o uso
de mecanismos de disparo massivo de mensagens para o WhatsApp. Não há nenhuma
ilegalidade nisso. Desde que as listas usadas para o envio contenham pessoas
que tenham aprovado sua presença nela e a recepção de mensagens. Não é uma
infraestrutura barata e simples de ser operada. São necessários dezenas ou
centenas de chips de celular instalados em equipamentos. Pelos mecanismos de
segurança do WhatsApp esses chips são constantemente bloqueados, queimados na
linguagem técnica, quando esses mecanismos percebem envio sequenciais de
mensagens. Há empresas que prestam esse serviço, no Brasil e no exterior, de
forma legal, competente e segura. Essas empresas podem ser usadas enquanto não
se chega no melhor cenário para esse tipo de envio.
Para a construção de uma política: Seminário nacional de comunicação
eletrônica
Esse cenário de comunicação
eletrônica, principalmente pela internet, é complexo e multifacetado. Não é uma
discussão rápida e tem que ser tomada com a participação de vários setores
profissionais, além de políticos. Assim é necessário a construção de um grande
Seminário que trace os rumos do partido nesse assunto. Esse seminário deveria
acontecer em abril de 2019, sendo preparado desde já, usando a estrutura dos
grupos que serão construídos. Cada um dos quatro grupos seria responsável por
elaborar material de discussão ao longo desse período até o seminário e
preparar as teses base para o tratamento de cada tema.
São Paulo, Janeiro de 2019
Conceitos
Monetização: Monetizar
é transformar algo em dinheiro. Monetizar uma casa é vende-la. É você
transformar uma casa em dinheiro. Há ideias que são monetizáveis.
Principalmente no mercado de aplicativos o uso desse conceito é muito intenso.
O Uber, por exemplo, foi uma ideia que foi monetizada através do uso de um
aplicativo. O Google foi monetizado vendendo anúncios e privilégios na exibição
das consultas. Quando fazemos uma consulta no Google os primeiros resultados
que aparecem são os que foram pagos. Uma fábrica de sapatos pode pagar para que
sua marca apareça logo nas primeiras de uma consulta sobre sapatos.
O Facebook é um dos aplicativos mais monetizados. Ali se
vende de tudo. A ordem e frequência dos posts, usuários separados por perfil,
propaganda segmentada e impulsionamento.
Criptografia: Criptografar
é codificar alguma coisa com um critério que somente quem conhece esse critério
pode ler a informação original. Isso permite que somente quem escreveu e
codificou, ou criptografou, o texto e quem conhece o critério de criptografia
consegue ler o conteúdo.
Um exemplo bem simples é a língua do P. É muito simples de
decodificar, ou descriptografar, mas é preciso saber o que fazer com todos os
Ps! Outra forma também simples, mas um pouco mais complicada, é substituir as
vogais da palavra por números atribuídos. Por exemplo, A=3, E=1, I=9, O=6 e
U=7.
Claro que a criptografia usada de forma profissional é muito
mais complexa e são codificações construídas para serem praticamente
impossíveis de serem descobertas.
Guerra Assimétrica: É aquela em que as
táticas militares, os armamentos, a infraestrutura e o poder de fogo são muito
diferentes, ou assimétricos. Nesse contexto o lado aparentemente mais forte da
assimetria nem sempre consegue vencer ou enfrenta enormes dificuldades no
enfrentamento do inimigo. A Guerra do Vietnã é um exemplo clássico desse tipo
de guerra. A assimetria entre as forças norte americanas e os Vietcongs eram
enormes. E, no entanto, os americanos foram derrotados de forma vergonhosa e
expulsos do Vietnã pelos Vietcongs. O Afeganistão é outro exemplo em que forças
russas e norte-americanas se atolaram no país e não conseguiram alcançar seus
objetivos políticos e militares.
Guerra Híbrida: O
conceito surgiu a partir do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças
Especiais dos USA:
“O objetivo dos esforços dos EUA nesse tipo de guerra é
explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de
potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir
os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. […] Num futuro previsível, as
forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras
irregulares (IW, na sigla em inglês)”
Nascida do conceito de Guerra
Não-Convencional das forças armadas, o conceito de Guerra Híbrida se expande
para além do uso estritamente militar, para um uso em situações em que a
desestabilização social é o que é importante. Deixa de ser uma atividade
militar para ser uma atividade de insurgência e viradas políticas, usando
várias táticas de inspiração militar.
Em uma Guerra Híbrida é essencial transformar
os não-engajados, mais cedo ou mais tarde, em contrários as lideranças
políticas tradicionais e a “tudo isso que está aí”. Esse processo pode incluir
apoio e financiamento as insurgências locais, como na Síria e outros países do
mundo árabe e também ampliar o descontentamento da população, por meio de
propaganda e esforços políticos e psicológicos, para desacreditar e
desestabilizar governos, como no Brasil e na Venezuela. Grandes manifestações
do povo são as fagulhas que põem fogo em uma situação de forte descontentamento
popular com “tudo isso que está aí”.
Com base
em estudos detalhados da sociedade alvo se identificam que “botões” podem ser
apertados para produzir os efeitos desejados. O centro da tática é produzir o
máximo de resultados com o mínimo de esforço. O “kit gay” é um exemplo.
BigData: Desde
que se começou a usar computadores se começou a armazenar dados de toda
natureza. E sempre houve muita discussão sobre como usar esses dados para
outros fins que não fossem os que eles foram coletados.
Por exemplo, analisando os seus dados, ainda na década de
1990, um banco brasileiro descobriu que havia uma relação entre um correntista
comunicar a mudança de endereço e encerrar a conta logo depois. Nessa época
pré-internet todas as operações bancárias eram feitas nas agências. Fazendo
pesquisas para entender a razão disso, o banco descobriu que, por ser mais
cômodo usar uma agência mais perto de casa, as pessoas acabavam por cancelar a
conta no banco que antes ficava próximo para abrir outra em um banco próximo do
novo endereço.
Com essa informação, toda vez que uma pessoa comunicava um
novo endereço o banco já oferecia a mudança da conta para uma agência próxima
ao novo endereço, reduzindo bastante o cancelamento das contas. E tudo isso foi
feito há mais de 20 anos atrás com computadores com capacidade muitas vezes
menor que um telefone de hoje em dia.
O bigdata faz com um volume de dados várias vezes maior o
que esse banco usou, usando computadores centenas de vezes mais potentes. E
busca em volumes imensos de informações correlações entre elas. Algumas vezes
com coisas específicas, como encontrar todas as pessoas que moram em
apartamentos em um determinado CEP. E outras vezes tentando encontrar
correlações existentes nesses imensos volumes.
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